O que causou estes artefatos em exames e também nos nossos testes? A causa pode oferecer risco à segurança em RM?
Poderia ser um prendedor de cabelo, ou um clipe de aneurisma, ou mesmo um fragmento de bala?
Poderia até ser, mas não era. A causa está relacionada a um material relativamente novo e que vem sendo cada vez mais utilizado. Aparentemente inofensivo, mas que causa um forte artefato nas imagens de RM da região que está presente e pode levar a aquecimento, existindo, portanto, risco de queimaduras.
Vejam que o artefato de distorção é bastante evidente na presença deste material e as alterações se mostram bastante pronunciadas.
Mas que material é esse?
Nos casos mostrados acima, as pacientes foram questionados sobre a presença de metal ou alguma cirurgia e também tiveram seu cabelo revisado em sala. Não foi encontrado nenhum tipo de metal evidente na cabeça do paciente.
Mas, quando as pacientes foram questionadas se haviam usado algum produto no cabelo antes do exame, veio a grande surpresa: usaram um spray de tintura instantânea antes de sair das suas casas.
Vejam na imagem em destaque acima que, na composição deste spray de pigmentação capilar instantâneo, um dos seus ingredientes é óxido de ferro. O óxido de ferro possui características ferromagnéticas. Vejam que é possível ainda identificar outros metais, como o titânio sob a forma de dióxido de titânio.
Ou seja, teremos que tomar alguns cuidados com este produto antes de fazer exame em alguém que o tenha utilizado.
Um rápido experimento
Resolvemos fazer um experimento bem simples. Compramos um destes sprays de cabelo e aplicamos em uma folha de papel, como pode ser visto abaixo.
Durante os testes de controle de qualidade em um equipamento de 1,5T, colocamos sobre um phantom (dispositivo de testes) esta folha de papel e o resultado foi o seguinte para diferentes sequências de pulso que foram aplicadas:
Vejam a forte distorção causada em três tipos de imagens gradiente eco (SWI ou SWAN, TurboFLASH ou FSPGR ou T1-FFE). Não mostramos aqui, mas nas imagens SE e FSE o artefato ocorreu de forma menos expressiva, mas ainda assim presente.
Tintas e outros materiais cosméticos usados para pigmentação de cabelos, cílios (rímel) e pele devem ser revisados, pois igualmente podem gerar os mesmos artefatos acima.
Os relatos de aquecimento na região de aplicação de maquiagem na região da sobrancelha e pálpebra, com reclamação pela paciente, não são incomuns.
A retirada de maquiagem para realização de exames de RM tem que ser feita, especialmente se a região de aplicação da maquiagem estiver dentro do gantry do equipamento.
Recomendações de segurança:
É importante acrescentar no questionário de investigação de segurança em RM (alguns lugares chamam de pesquisa de metais) uma pergunta do tipo: "Você fez uso recente de tintura no cabelo, tingimento instantâneo na pele ou algum tipo de maquiagem no corpo?";
Acrescentar essa pergunta não só evitará problemas na hora do exame quanto a artefatos (caso o exame seja da região), como também é uma precaução do serviço quanto a orientação do que o paciente pode ou não pode estar usando durante o exame:
O artefato causado pelas substâncias (composição) destas tinturas pode causar artefatos, porém como alteram a condutividade do tecido em que que estão aplicados, também podem levar a formação de correntes elétricas na região devido aos gradientes de campo magnético e campos de radiofrequência (RF);
As correntes elétricas geram aquecimento local e este aquecimento, pode ocasionar desconforto, ou, combinado com outros fatores, levar a queimaduras;
Importante destacar que não temos nenhum caso de queimadura ou relato de desconforto por parte de pacientes que usaram estes produtos ou mesmo produtos semelhantes na literatura, entretanto conhecemos casos de materiais, como pulseiras de identificação (vide referência abaixo), que levaram a queimaduras no punho durante exame de RM.
Mais uma vez o recado que resulta de tudo isso é:
Precisamos estar atentos a tudo em RM para garantir a máxima segurança para todos e a melhor qualidade da imagem!
Agradeço a Karine I. Stieven, Lucas Foppa, Marister Fioreze e Alessandro Carneiro pelas imagens e ajuda para compor este material.
Até o próximo artigo!
Alessandro A. Mazzola
Referência:
Jacob, Zvi C., et al. “MR Imaging–Related Electrical Thermal Injury Complicated by Acute Carpal Tunnel and Compartment Syndrome: Case Report.” Radiology, vol. 254, no. 3, 2010, pp. 846–850., doi:10.1148/radiol.09090637.