por Alessandro Mazzola
"Se o sangue é rico em ferro e este é um elemento ferromagnético, por que a RM não gera magnetização no sangue?"
Esta questão foi feita no Pergunte ao MRIONLINE e, para respondermos, primeiramente vamos voltar no tempo e visitar o trabalho do físico inglês Michael Faraday.
Ele testou diversos materiais e elementos sob ação de campo magnético, entre eles o sangue (fresco e seco).
Ao observar os resultados dos experimentos, Faraday constatou que o corpo humano não responde a um campo magnético e não possui, nas substâncias que o compõem, nada que ofereça esta resposta. Uma observação muito importante na época, decerto, mas com a evolução da ciência hoje entendemos melhor o magnetismo enquanto fenômeno físico.
Para compreender sua relação com o sangue e corpo humano, precisamos entender a propriedade fundamental a seguir.
O que é susceptibilidade magnética?
De acordo com a Enciclopédia Britânica:
A susceptibilidade magnética é uma medida quantitativa da extensão em que um material pode ser magnetizado em relação a um determinado campo magnético aplicado. A susceptibilidade magnética de um material, comumente simbolizada por χm, é igual à razão da magnetização (M) dentro do material em relação a força aplicada do campo magnético (H), ou χm = M / H.
Essa relação, estritamente falando, é a susceptibilidade do volume, porque a magnetização envolve essencialmente uma certa medida de magnetismo (momento dipolar) por unidade de volume. Veja também que o campo magnético externo pode ser tratado pela letra H ou, como é mais comum em RM, B0.
Observe o exemplo a seguir para entender como se apresentaria esta propriedade numa situação prática:
Existe um campo magnético externo B0 com suas linhas de campo perfeitas, ou seja, bem paralelas entre si. Agora vamos colocar alguns materiais nele:
Plástico;
Água;
Gadolínio (Gd);
Ferro (Fe).
Observe como estes quatro elementos interferem no campo magnético.
Veja bem:
O plástico não altera o campo. As linhas permanecem paralelas, sem nenhuma alteração - Diamagnético
A água afasta um pouco estas linhas, reduzindo localmente o campo magnético - Diamagnética
O gadolínio, por outro lado, aproxima estas linhas. Ou seja, aumenta localmente o campo magnético - Paramagnético
E o ferro?
O ferro atrai muito estas linhas, aumenta bastante o campo magnético, logo é ferromagnético.
Qual a relação do ferro no sangue com o efeito magnético?
O ferro no sangue é encontrado na hemoglobina, cuja responsabilidade é transportar oxigênio em nosso corpo.
A hemoglobina é composta por quatro subunidades, cada uma contendo um grupo heme com um átomo de ferro (Fe) aninhado em seu centro, ao qual o oxigênio e outras moléculas pequenas podem se ligar temporariamente.
Enquanto circulante (dentro do corpo humano em estado normal), o sangue tem os estados diamagnético e paramagnético. Quando há sangramento, como em uma hemorragia intracraniana, o sangue pode ir do estado diamagnético até o superparamagnético, com alto valor de susceptibilidade magnética, dependendo da fase em que se encontra.
Em 1936, Linus Pauling e Charles D. Coryell publicaram um estudo sobre as propriedades magnéticas da hemoglobina, descobrindo que o estado magnético do sangue está diretamente ligado ao nível de oxigenação.
Sim, a RM gera magnetização no sangue, porém
Não é a mesma magnetização de um material ferromagnético colocado sob ação de um campo. Um tecido contendo prótons de hidrogênio irá ter sempre uma magnetização resultante, a qual poderá ser manipulada para gerar as imagens de RM.